Rating Brasil: conceito, histórico e comparação a outros países


No artigo sobre as “agências de rating” aprendemos como utilizar as notas dadas pelas principais agências de classificação de risco para escolher os investimentos mais seguros.

O nosso foco estava no rating dos bancos que emitem LCI e CDB, por exemplo. Entretanto, você sabia que estas agências também emitem notas para os países? Para o nosso caso esta nota é chamada de “Rating Brasil”.

A classificação do risco (rating) de um país nada mais é do que uma nota com a intenção de representar a capacidade daquele país em honrar suas dívidas.

Ou seja, é utilizada pelos investidores como um parâmetro de confiança para que estes façam suas aplicações financeiras com o menor risco de tomarem calote.

O rating emitido por agências de classificação estrangeiras, teoricamente independentes, é uma forma de fornecer aos investidores uma análise técnica a respeito da segurança de se investir em determinados países.

Este rating leva em consideração tanto o cenário econômico quanto o cenário político do país.

Sendo assim, quanto pior o rating de um país, mais difícil será a atração de investimentos e, consequentemente, maior terá que ser a recompensa oferecida para a captação de dinheiro.

Neste caso, a recompensa pode ser entendida pela oferta de juros mais elevados.

Em contrapartida, quanto melhor o rating, mais fácil é a captação de dinheiro no mercado, com menores custos (juros a serem pagos) e melhores condições para pagamento.

De acordo com informações retiradas do próprio site do Tesouro Nacional, oficialmente o Brasil possui contrato para a classificação de seu risco de crédito com as três principais agências do mundo, a saber:

Entretanto, o Tesouro Nacional informa que existem outras agências internacionais monitorando o país: Dominion Bond Rating Service (DBRS), Japan Credit Rating Agency (JCR) e Rating and Investment Information (R&I).

Como entender as notas de rating


A princípio, o investidor pode achar confusa a “sopa de letrinhas” da escala de notas das diversas agências de rating.

Entretanto, o principal é entender que existe o grau de investimento (investment grade) dado àqueles países com melhores avaliações e o grau especulativo (speculative grade) concedido aos países com maiores riscos de darem calote.

A tabela a seguir apresenta de forma detalhada todas as escalas de nota para as três principais agências de rating.

rating-moodys-fitch-s&p

É importante ressaltar que não se deve confundir o rating de um determinado país com o rating dos bancos domiciliados neste país.

Ou seja, o Brasil pode possuir rating de “grau especulativo” e ao mesmo tempo possuir bancos atuando em seu território com rating de “grau de investimento”.

O Rating Brasil


Em abril de 2008, a S&P subiu o Brasil do “grau especulativo” para o “grau de investimento” através do aumento da nota de BB+ para BBB-.

Em maio de 2008, a Fitch também elevou o nosso país para a categoria de “grau de investimento”.

Esta decisão também foi seguida pela Moody’s em setembro de 2009, a última das três principais agências internacionais a conferir este “selo de bom pagador” ao Brasil.

Como muitos investidores e grandes fundos internacionais de investimento só investem em países e instituições que possuam o selo do “grau de investimento”, este foi um dos fatores que contribuiu para o acelerado crescimento econômico do país no período, pois atraiu a entrada de volumosas quantias vindas do exterior.

Atualmente, entretanto, em função dos elevados desafios fiscais, da piora no cenário de crescimento econômico e da incerteza política, o Brasil teve a sua nota rebaixada pelas três agências e sua classificação de risco momentânea (base: mai/16) é a seguinte:

rating brasil s&p fitch moodys

Interessante observar que a S&P foi a primeira agência a dar ao Brasil o “grau de investimento” (2008) e, também, foi a primeira a colocar o Brasil de volta ao “grau especulativo” (em set/15).

Ressalta-se, que em fev/16 a S&P fez um novo rebaixamento da nota do Brasil, dificultando ainda mais a retomada do “grau de investimento”.

Após o rebaixamento da S&P, a Fitch (em dez/15) também rebaixou o Brasil e, por último, a Moody’s (em fev/16).

Mas qual a importância do Rating Brasil?


A perda do “grau de investimento” (conhecido também como “selo de bom pagador”) indica para os investidores que o Brasil é um lugar arriscado para aplicações financeiras.

Na prática, existe uma fuga de capital estrangeiro, principalmente dos grandes fundos de pensão internacional, que condicionam a manutenção de investimentos ao “grau de investimento” concedido por no mínimo duas agências.

Com a saída destes recursos do país e o menor fluxo de entrada de dólares no país, esperava-se, também, uma maior desvalorização do real frente à moeda americana.

Apesar de ter diversas variáveis que afetam o câmbio, pudemos perceber que o fenômeno da alta do dólar de fato ocorreu nos últimos meses.

A lógica desta desvalorização da moeda nacional reside no conceito da “oferta versus demanda”, ou seja, com menos dólares circulando no país (oferta) haverá maior dificuldade na aquisição desta moeda e, consequentemente, o seu preço tende a subir.

Além disto, o enquadramento do Brasil no “grau especulativo” eleva os custos de financiamento do governo e das empresas brasileiras, pois terão que oferecer maiores taxas de juros para tomar dinheiro emprestado no exterior.

Estes efeitos apresentam um quadro nocivo à economia do país de forma geral e podem aprofundar a crise econômica, retardando ainda mais a retomada do crescimento do país.

Histórico do Rating Brasil


A título de curiosidade, são apresentados gráficos contendo o histórico do rating do Brasil por estas três agências:

rating brasil s&p

rating brasil fitch 2

rating brasil moodys

Fonte: Tesouro Nacional (dívida de longo prazo em moeda estrangeira).

Pela análise dos gráficos, é possível observar que durante os dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002) o Brasil possuía o “grau especulativo”.

A obtenção do “grau de investimento” só foi recebida no segundo mandato do ex-presidente Lula e está atrelada ao excelente momento da economia na época.

Durante o primeiro mandato da presidente Dilma o Brasil continuou tendo o “grau de investimento”, mas recentemente teve sua nota rebaixada e voltou a ser tido como “grau especulativo” em virtude da crise econômica e política.

Obs.: A intenção destes gráficos não é julgar se um governo de esquerda é melhor ou pior do que um governo de direita. Só queremos trazer uma informação histórica e mostrar que na maior parte dos últimos 20 anos o Brasil foi classificado como “grau especulativo” pelas três principais agências (S&P, Moody’s e Fitch).

Comparação com rating de outros países


Agora que já entendemos o conceito e o histórico do “Rating Brasil”, que tal compararmos com o rating de outros países?

Para isto selecionamos os dados da S&P extraídos do relatório do Banco Central que possui as informações dos ratings vigentes em abr/15, quando o Brasil ainda possuía grau de investimento.

Podemos observar que os maiores ratings mundiais em abril de 2015 pela agência S&P eram de Hong Kong e Reino Unido. Curiosamente, o rating dos Estados Unidos não era máximo neste período.

Na África, tínhamos a África do Sul e Marrocos com “grau de investimento” e Egito numa escala muito mais baixa como “grau especulativo”.

Dos países europeus analisados, o que chama atenção é a baixa nota da Ucrânia e a Rússia tendo “grau especulativo” também.

Na Américo do Sul, o grande destaque positivo fica por conta do Chile com nota equivalente à de grandes potências como China e Japão. O destaque negativo sul-americano vai para a Venezuela.

O Brasil possuía grau de investimento em abril de 2015 (período de análise dos dados do gráfico), mas teve seu rating rebaixado e atualmente apresenta a nota “BB”, ou seja, conforme dito anteriormente está enquadrado como “grau especulativo”.


Aprendemos neste artigo o conceito do “Rating Brasil”, vimos o histórico dos últimos 20 anos das notas do Brasil nas três principais agências de classificação e pudemos fazer uma comparação com o rating de diversos outros países.


Data da última atualização desta matéria: maio de 2016.

16 respostas

  1. Excelente matéria, bastante esclarecedora e didática que, no entanto, aborda um curto período de nossa história. Como sabemos, as agências de rating foram criadas no final dos séculos XIX e início do XX, gostaria de saber se em algum outro período de nossa história republicana o Brasil já obteve “grau de investimento” ?

    1. Maurício, a inflação já está bem mais controlada e a tendência é de cair mais ainda. Em relação ao calote, achamos muito difícil no atual cenário. Para o Governo dar calote nos títulos públicos é porque o país quebrou verdadeiramente e não porque está em recessão ou uma crise mais aguda.

    1. Marcos, essa pergunta é muito difícil. O atual cenário político-econômico ainda está muito nebuloso e não nos arriscamos a fazer previsões deste tipo. O importante é saber investir em bancos confiáveis e rentáveis. E isso dá para fazer mesmo na crise.

  2. De novo venho aqui elogiar as imagens que vocês criam. Perfeitas para nos ajudar a entender um pouco mais do contexto global e histórico.

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